28 de fevereiro de 2008

SKA, UMA BREVE HISTÓRIA (PARTE II)

No final dos anos 70 várias bandas punk estavam incorporando o reggae em seu repertório e várias outras também faziam lá suas incursões pelos ritmos jamaicanos. A aproximação entre o punk rock e o reggae era perfeitamente compreensível, uma vez que ambos nasceram entre os excluídos da sociedade.
A fusão do punk rock com o reggae e o ska deu seus frutos e foi responsável pelo interesse que muitos jovens brancos passaram a ter por estes ritmos, assim os velhos discos de ska dos anos 60 foram redescobertos por uma nova geração.
É neste contexto que a semente da Two Tone foi plantada e germinou.


The Specials e a 2 Tone

Para falarmos da Era 2 Tone é imprescindível falar primeiro da banda The Special AKA, surgida nos idos de 1977 e inicialmente batizada com o nome The Automatics. O Special AKA,no ano de 1978 participou da turnê "Clash Out One Parole" do The Clash, e fazia um som mesclando punk rock com reggae. Com o fim da turnê, os Special AKA voltam para sua terra natal, Conventry, e um de seus integrantes, Jerry Dammers, sugere uma reformulação no estilo da banda, a proposta é aceita, e com isso adotam de vez o ska. Tal mudança selaria definitivamente o destino da banda, agora chamada apenas The Specials.

Vem o ano de 1979, e é lançado o single “Gangsters”. Os Specials não estavam apenas lançando um single, mas também nascia um selo, Two Tone, um nome bastante inspirado, tendo em vista o agravamento dos problemas relacionados com o racismo e a violência de partidos inspirados no nazi-fascismo, como o National Front. O nome jogava com a idéia multi-racial sugerida pelos dois tons, preto e branco, também válido para a composição da banda, com musicos negros e brancos. O selo 2 Tone proporcionaria as bandas de ska a criação de uma cena própria também.

No mesmo período no qual os Specials se formaram, outras bandas surgiram e se voltavam para o ska, como é o caso do Madness, formado em 77 e que no começo chamava-se The North London Invaders, e dos malucos do Bad Manners, em Londres. Da cidade de Birmingham, vinha a The Beat, e da mesma cidade dos Specials, Conventry, vinha a Selecter.Para estas bandas a Two Tone serviu como pólo aglutinador e difusor, com exceção dos Bad Manners, que não se filiou à Two Tone, mas no entanto participaria do filme "Dance Craze", sobre a Two Tone e o renascimento do ska na Inglaterra. Com a união de outras bandas a sua volta, a Two Tone se convertera em mais que um selo, se tornara um movimento musical, responsável pelo ressurgimento do ska, renascimento esse que ia além de um mero revival, pois trazia elementos novos para o ska, tanto do ponto de vista musical, quanto das letras e atitudes.

Musicalmente o ska da Two Tone trazia resquícios do punk rock e de outros ritmos, portanto era um ska "energético" e mais elaborado. As letras agora estavam mais elaboradas e com temas mais amplos, no caso dos Specials estavam também mais politizadas, enfocando temas contra o racismo, estupros, a guerra fria e o desemprego causado pela política da Sra Margareth Tatcher,a Dama de Ferro da Inglaterra. O lado politizado dos Specials não ficava só nas letras, mas também na participação em campanhas como a de solidariedade ao Camboja.

A Two Tone inovou, mas não esqueceu os clássicos do ska sessentista jamaicano, e os Specials regravaram "Guns of Navarone" (The Skatalites), a The Beat atacou com "Tears of a Clown" (The Miracles), as Bodysnatchers-banda inteiramente feminina - trouxe de volta "Let´s Do Rock Steady" (Dandy Livingstone), enfim, praticamente todas as bandas de ska surgidas no rastro da Two Tone regravaram alguma canção dos musicos de ska dos anos 60.

O êxito da Two Tone e a regravação dos clássicos do ska, também abriram caminho para os veteranos do ska e do reggae. Desmond Dekker, Lauriel Aitken, Prince Buster, Judge Dread, The Maytals e outros estavam de volta do esquecimento e retornaram aos estúdios e palcos, redescobertos pela nova geração de aficcionados pelo ska. Os novos fãs de ska logo também começaram a montar suas bandas, seguindo a receita da Two Tone, o resultado nem sempre era positivo, pois muitas bandas novas não eram mais que cópias de qualidade inferior das bandas originais da Two Tone, ou então, estavam apenas pegando uma carona oportunista na chamada "Segunda Onda do Ska".

2 tone e seu fim

A Two Tone cresceu e saiu do controle de seus criadores, o impacto inicial também já tinha passado, vieram as críticas negativas e o modismo, de repente milhares de clones de "Walt Jabsco" (aquele desenho de rude boy que se tornou a marca registrada da Two Tone) povoaram as ruas do Reino Unido.Em 1980 bandas como a Selecter e a Madness estavam fora da Two Tone. Em 1981 a Two Tone está em crise, tanto que até mesmo os Specials, após o lançamento do single "Ghost Town", acabaram, mas Jerry Dammers e outros integrantes seguem tocando com o antigo nome The Special AKA, porém, aquele movimento musical do início estava desgatado, praticamente desfeito, mas o selo Two Tone seguiu ativo até 1985. O ultimo lançamento significativo da Two Tone foi o Lp "In The Studio" do Special AKA, este disco trazia fortes críticas políticas, mas musicalmente era bem diferente dos discos dos Specials, e também já não trazia a estética rude boy do início dos Specials.

Das bandas que inicialmente integraram a Two Tone, a maioria seguiu tocando e gravando durante a primeira metade da década de 80, sendo que destes grupos o mais duradouro foi o Madness, que lançou seu ultimo Lp em 1986. A Two Tone acabou, mas deixou sua herança, retirou o ska das sombras do esquecimento e o transformou em um ritmo vivo e resistente. Bandas como , The Toasters, Bim Skala Bim, The Slackers e toda a chamada "Terceira Onda do Ska", beberam na fonte e seriam impensáveis sem o legado da Two Tone.
Fontes:
- Marshall, George, Espírito de 69. A Biblía do Skinhead, Trama Editorial, São Paulo, 1993.
- Freire, Carlos, The Clash. O Futuro não está Escrito, Fora do texto, Combra, 1992.
- Puissant, Hamel, Skinheads: mitos e realidades, La Letra A, nº35, abril-maio,1992, Espanha.
- The Two Tone Story (encarte do Lp duplo com o mesmo nome), 1990.

Um comentário:

João disse...

Big up! Que blog fantástico. Como grande apreciador de ska fiquei muito bem impressionado.

Um abraço de Portugal!