11 de abril de 2008

BIOGRAFIA - LEE PERRY (Parte II)

Com as atenções do mundo voltadas para a Jamaica por conta do sucesso de Bob Marley, era natural que a música de Lee Perry se destacasse, levando-o à vôos internacionais. A Island Records assinou com ele um contrato de distribuição, e seu estilo acabou chamando a atenção de figuras como Paul McCartney e o Clash, que inclusive regravaria no seu primeiro disco a clássica 'Police and Thieves. Pra manter a tradição ele acabou rompendo com Chris Blackwell, chefe da gravadora, à quem também fez acusações através de suas músicas.

Lee Perry viveu esse período trancado no estúdio na maior parte do tempo, às voltas com intemináveis sessões de gravação regadas à álcool e ganja em profusão. As pressões da notoriedade começaram a ficar cada vez mais pesadas, com dezenas de dreads freqüentando a sua casa em busca de uma oportunidade de gravação ou de dinheiro (ele chegou a ser extorquido por traficantes e outros bandidos da ilha). Tudo isso, somado ao fato de suas inovadoras produções não estarem dando o retorno financeiro esperado (além de uma certa hesitação da Island em lançar os trabalhos mais experimentais), levou-o a sofrer uma séria crise nervosa, que o fez expulsar a pauladas todos os estranhos de sua casa. A partir de então ele foi abandonando aos poucos a produção no Black Ark. Após uma frustrada tentativa de retomar o estúdio, um incêndio que muitos dizem ter sido ateado por ele mesmo (embora a famiília negue), em 1983, enterrou para sempre a história da Arca Negra. Desde então muito se falou em reerguê-lo, mas nada de concreto foi realmente realizado para tanto.

Depois do incêndio, Perry acabou sendo abandonado por sua companheira, Pauline Morrison, cansada do seu estilo de vida. O acontecimento significou uma ruptura radical com o passado, onde ele resolveu não gravar mais com seus companheiros jamaicanos (principalmente os que usavam dreadlocks, uma implicância que iria durar por muito tempo), marcando o início de uma fase em que ele passou a ter um comportamento cada vez mais excêntrico.
Recebia jornalistas agindo de maneira estranha, em meio às ruínas do estúdio, totalmente cobertas de graffitis e outras pinturas, sempre com um discurso meio fora de órbita, poético, como um orador tresloucado e muito bem informado. Por essas e outras, ficou com fama de louco.
Perry passaria os anos seguintes errando entre a Europa e a Jamaica, chegando a morar em Londres por alguns anos. Nessa época participou de muitas produções, mas apenas algumas resultaram em álbuns acabados, mesmo assim de qualidade variável. Uma de suas decisões nessa época foi dar prioridade à auto-produção, embora de vez em quando aceitasse trabalhar para outros artistas.


Em 1987 aconteceu finalmente o retorno definitivo do gênio aos seus melhores dias. Trabalhando em conjunto com o produtor inglês Adrian Sherwood e a banda Dub Syndicate (cujo núcleo era formado pelos integrantes da banda Roots Radics), Perry lançaria o clássico 'Time Boom X De Devil Dead', muito mais do que uma obra-prima, foi a sua volta à cena em grande estilo, embora ele pouco tenha contribuído para dar forma à base instrumental deste disco (mas suas letras geniais e performance inspirada no vocal já bastaram). Na seqüência se seguiram outros excelentes lançamentos, como "From the Secret Laboratory", bem como várias reedições de suas agora lendárias produções dos anos 70, como a já citada "Open the Gate".

Depois de todas as atribulações de sua vida pessoal, que também foi bastante intensa (tem pelo menos seis filhos com várias mulheres), encontrou um refúgio seguro na Suíça, junto com sua nova esposa, Mireille Perry. Assim, Lee 'Scratch' Perry se mantém como um dos nomes mais importantes e decisivos na história do Reggae.

As produções realizadas nos últimos 15 anos fizeram com sua carreira como showman decolasse. O rei louco do reggae é hoje um artista muito solicitado para shows ao redor do planeta, quase sempre junto com outro produtor de grande talento: Mad Professor (nome que parece ter sido inspirado em Perry), com quem gravou vários álbuns nos últimos tempos.

Lee "Scratch" Perry continua a reinar soberano nos palcos e estúdios, cumprindo uma trajetória atribulada, mas vitoriosa. Depois de algum tempo longe da ilha natal, parece estar recebendo o reconhecimento devido de seus conterrâneos, pois recebeu, em agosto de 2002, o Lifetime Achievement Award, prêmio pelo conjunto da obra dado aos artistas jamaicanos de maior destaque. Em 2003 outra láurea importante, o Grammy, o mais importante prêmio da indústria fonográfica mundial, pelo álbum "Jamaican ET" .
Tendo em vista tantos nomes de peso da cena jamaicana que se foram nos últimos anos, pode-se dizer que Perry é um sobrevivente, para a sorte de quem puder encontrá-lo frente a frente em uma de suas loucas apresentações.
Fonte: Dread Times (Páginas Terra)

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